Reflexão do Evangelho do dia 24 de Maio de 2013
Sexta-feira – 24 de maio
Mc 10, 1-12: Perguntas sobre o
divórcio
Acalorada era a discussão entre os
rabinos sobre o motivo que legitimava o repúdio da própria mulher. A questão
girava ao redor das determinações do Deuteronômio, cujas expressões eram pouco
precisas. Para testar Jesus, os fariseus lhe perguntam: “É lícito repudiar a
própria mulher por qualquer motivo que seja?” Os mais rígidos, escola de
Shammai, interpretavam o texto bíblico em seu sentido estrito: só em caso de uma
conduta deveras desonrante. Ou em sentido mais amplo, escola de Hillel, segundo
a qual se podia repudiar a mulher por não importa qual motivo. A pergunta é
capciosa e visa colocar Jesus à prova.
Ciente do que se passa no coração de seus
ouvintes, o Senhor situa a questão no quadro dos desígnios do Pai. Sem negar a
Lei, é necessário superá-la não se deixando limitar por ela. Com sabedoria,
Jesus põe em evidência o gesto inicial da criação do universo: o amor de Deus.
No “princípio, Deus os fez homem e mulher”. Princípio não temporal, mas sim
absoluto e eterno, que indica nossa eleição em Deus e nos remete aos desígnios
eternos do Pai, que nos chama a ser imagem da própria Trindade, unidade
perfeita no amor.
Através dos tempos e das civilizações,
a marca indelével de Deus permanece em nós, não menos presente que a natureza
humana saída das mãos de Deus. Nada poderá destruí-la, nem mesmo o pecado, embora
ele nos torne dessemelhantes a Deus. A imagem, porém, jamais a perdemos. Sendo
amor, escreve S. Gregório de Nissa, “Deus colocou também esta marca em nosso
coração”. Desde a criação, fomos iniciados na comunhão do amor divino para
vivê-lo e testemunhá-lo.
Ao amor infinito e gratuito de Deus,
respondemos com nossa fidelidade e doação generosa. Misterioso e amoroso horizonte,
que nos permite compreender as palavras de Jesus: “O que Deus uniu o homem não
separe”. Portanto, o matrimônio é sinal
sagrado do amor de Deus e, desde o início da era cristã, ele se realiza na
Igreja, diante do seu ministro: “in facie ecclesiae”. Em sua carta a S.
Policarpo, S. Inácio de Antioquia declara: “Convém que os homens e as mulheres
que se casam, contratem sua união com o parecer do Bispo, a fim de que seu
matrimônio se realize diante do Senhor”. S. Inácio reconhece que o matrimônio,
instituição natural, foi enobrecido e elevado por Jesus à dignidade de
sacramento. Certamente, estão presentes a ele as palavras do Apóstolo S. Paulo,
que se refere ao matrimônio como imagem da união mística de Cristo com a
Igreja, sua esposa (Ef.5).
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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