Reflexão do Evangelho do dia 28 de Maio de 2013

Terça-feira – 28 de maio
Mc 10, 28-31: Recompensa pelo desprendimento
         
          O desprendimento e a renúncia estão estreitamente ligados à prática da vida cristã.  Desde criança, somos introduzidos, por nossos pais, à prática de pequenos sacrifícios, como exercício para tornar o corpo são e forte. Pela renúncia, escreve Evágrio, “o corpo torna-se ligeiro, alegre e munido de asas”. Daí o fato de S. João Batista ser representado nos ícones com asas.
Muitos outros termos, que remontam às tradições pré-cristãs, foram adotados pelos cristãos para designar a renúncia, como purificação, ascese, mortificação e domínio de si mesmo. Sem cair no estoicismo ou no maniqueísmo, aspira-se seguir ao Senhor por ser ele, e não os bens materiais e as paixões desordenadas, o centro da vida cristã. A renúncia ou penitência constitui força renovadora, criativa, o dinamismo de uma vida capaz de sempre se renovar. Pelo desprendimento, diz Orígenes, “o divino Mestre libera do meio das areias, presentes no fundo da alma, o poço de água viva, na qual se vislumbra a imagem de Deus escondida em nós”.
          Segundo a interpretação de S. Jerônimo, “abraça-se a renúncia por causa de Jesus”, melhor, “por causa de nossa união com ele”. Exclama Orígenes: “Eu vivo, mas não mais eu: eis as palavras de um homem (S. Paulo) que se negou a si mesmo, que perdeu sua própria vida e acolheu nele o Cristo para que o Cristo vivesse nele. Pois Cristo vive nele como Justiça, Sabedoria, Santificação. Ele é a sua Paz, pois nele o Poder de Deus opera todas as coisas”. Eis o ponto máximo da renúncia: nossa identificação ao Cristo crucificado.  
Renúncia é simplesmente resposta ao amor de Jesus. No entanto, o próprio Jesus fala de uma recompensa a ser concedida não só no fim dos tempos, mas já aqui na terra. Palavras recordadas por S. João Cassiano: “Quem renuncia, por causa do Senhor, pai, mãe, filho, para entrar no verdadeiro e puro amor de todos os servidores de Cristo, recebe cem vezes mais em irmãos e pais”. E continua S. João: “Porque, em vez de um só pai, de um só irmão, ele terá doravante uma multidão que está unida a ele pelos laços de afeto muito mais ardente e elevado”.
          Poder-se-ia supor que renúncia fosse negação da “vontade de viver”. Ao invés, ela proclama, justamente, a audácia de viver na bondade e na misericórdia, sinal de força moral. Comenta Clemente de Alexandria: “Seguir realmente o Salvador é aspirar sua impecabilidade e perfeição, e contemplando-se nele como em um espelho, adornar e dirigir a própria alma e ter em tudo e por tudo seu mesmo espírito”. Pela prática ascética, os nossos corações são plenificados e no Senhor eles encontram alegria e paz, pois “a estreiteza da natureza humana só é vencida pelo amor” (S. Máximo o Confessor).


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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